BRICS+ Fashion Summit tenta redesenhar o mapa da moda

Revista Forbes destaca a programação da primeira edição da BRICS+ Fashion Summit que aconteceu em dezembro de 2023 em Moscou. A BRIFW foi convidada pela organização do evento como representantes da delegação brasileira e participou de uma série de programas, palestras e encontros sobre o futuro da moda global. Texto por Stephan Rabimov.

BRIFW at BRICS + Fashion Summit

Moda é apenas mais um sinônimo de mudança. Como indústria e forma de arte, a moda reflete e recodifica o espírito da época com um toque criativo e precisão científica. Não há nada de frívolo no quarto maior sector económico do mundo. A fabricação de vestuário, têxteis, calçados, beleza e acessórios sustenta muitas comunidades. O sistema de moda atual, pense nas semanas de moda, na mídia de moda, nos grupos de varejo, está centrado em Paris, Milão, Londres e Nova York. A última década viu a ascensão de capitais da moda alternativa e uma matriz de estilo global atualizada, com África, América Latina e MENA como as suas principais vozes. Sendo uma indústria pioneira, a moda prospera sob pressão.

BRICS+ Fashion Summit é um esforço para introduzir uma nova forma de fazer negócios. O evento em Moscou, que aconteceu entre 28 de novembro e 2 de dezembro de 2023, atraiu 130 marcas dos países BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul – além de outros mercados emergentes. Existe espaço para a diplomacia da moda no meio de sanções de guerra, tensões geopolíticas históricas e preocupações crescentes com a IA e as alterações climáticas? Aqui estão alguns insights dos participantes da Cúpula.

Qual é o apelo da indústria de um evento como este?

Designers emergentes como Arzu Kaprol da Turquia, David Tlale da África do Sul ou 陳宇 CHNNYU da China viram a participação num palco do BRICS+ como uma porta de entrada para novos clientes fora dos seus respetivos mercados e uma oportunidade para aumentar o seu perfil global.

Então, será o BRICS+ Fashion Summit uma alternativa viável ao status quo da indústria? “É prematuro dizer que esta é a minha primeira vez num nível tão internacional, mas não diria não”, reflecte Aldrie Indrayana da marca indonésia AL•DRI•E. “Consegui garantir vendas com compradores que de outra forma nunca teriam ouvido falar de nós.”

BRIFW e BRICS + Fashion Summit

A estética unissex minimalista, mas ousada, atraiu a atenção dos amantes da moda que valorizam peças monocromáticas exclusivas. “Acho que este evento atua como um disruptor, oferecendo uma plataforma diferente e inclusiva. O espírito colaborativo do BRICS+ cria uma vantagem competitiva que pode amplificar a nossa influência coletiva”, sugere a designer etíope Kunjina Tesfaye. O criador da marca KUNJINA teve uma temporada movimentada com vitrines da indústria no Quênia, na China e na África do Sul. Global é o novo local!

Qual é a principal conclusão da Cúpula?

Quando o assunto é networking, Olivia Merquior, fundadora do Brazil Immersive Fashion Week, descobriu mais semelhanças sistêmicas do que desafios únicos entre os participantes.

“Estava em contato com colegas da Turquia, Zimbabué, Guatemala, Malásia e de muitos locais diferentes. Muitos dos nossos países lutam com recursos limitados para desenvolver novos artistas. Em 2020, lancei a BRIFW para trazer novas tecnologias para o sistema de moda brasileiro e agora reconheço quantos empreendedores de moda podem se beneficiar dessas experiências compartilhadas. Aproveitando o talento local e adotando soluções digitais, podemos superar quaisquer barreiras e ajudar a construir marcas culturalmente ricas que tenham ressonância global”.

O designer Juan Hernandes Daels, da marca belga-argentina com sede em Paris, SADAELS, compartilha o sentimento revelador. “Vindo da Argentina, o acesso aos principais players mundiais da moda teria sido quase impossível sem uma cúpula como esta. A ideia está inequivocamente movendo a indústria global na direção certa.”

Como a moda indiana impressionou o público do encontro

Facilmente, o destaque mais esperado do Summit foi uma vitrine do Fashion Design Council of India (FDCI) apresentando quatro marcas indianas emergentes: riteshkumar, Shruti Sancheti, KHANIJO e Naushad Ali. O designer Ritesh Kumar ficou entusiasmado com a oportunidade porque, na sua perspectiva, “a novidade dá a esta experiência uma certa vantagem sobre os destinos de moda mais estabelecidos”. Ele também observa que “o papel da moda sempre foi aproximar as pessoas da vibe por motivos comuns, pela relevância do momento. Ao mesmo tempo, a moda carrega um sentimento de pertencimento às raízes culturais. Mantém a nossa história viva e pronta para ser compartilhada com o mundo.”

BRIFW e BRICS + Fashion Summit

O designer Shruti Sancheti funde o artesanato tradicional com sensibilidades estilísticas contemporâneas. O seu talento alcançou novos públicos no início deste outono, graças a uma apresentação especial durante a Cimeira do G20 em Deli. A diplomacia da moda funciona! “O tempo estava gelado [em Moscou], mas o caldeirão de criatividade e hospitalidade foi mais que suficiente para manter todos aquecidos”, lembra Sancheti.

Uma história de sucesso de moda masculina no país, Gaurav Khanijo apreciou a oportunidade de comunicar a sua visão aos compradores internacionais sem algoritmos e truques digitais. “A moda ainda precisa ser vista, tocada, sentida pessoalmente para causar uma impressão duradoura. Para mim, estar presente é a forma orgânica de chegar aos consumidores.”

Como é que os designers russos se envolveram com o Summit?

Quando se trata dos problemas da indústria da moda russa, a comunidade tem resistido às consequências da guerra na Ucrânia, que cortou muitos laços comerciais e culturais entre a Rússia, a UE e os EUA.

Cerca de oitenta marcas nacionais estiveram em exposição no Showroom do BRICS+ na esperança de direcionar suas estratégias para novos horizontes. Falando sob condição de anonimato, o proprietário de uma boutique observou que um aumento nas vendas internas não compensou a perda de acesso aos principais canais de comércio internacional. Estão a considerar estabelecer uma segunda base empresarial na Geórgia ou no Cazaquistão para poderem comercializar a nível mundial. Outro designer que desejava permanecer incógnito partilhou o stress de mudar toda a sua linha de produção para substituir têxteis turcos e componentes de fabrico chinês por peças agora indisponíveis de produtores europeus e americanos.

No entanto, o summit de moda BRICS+ trouxe algumas novas oportunidades para os designers russos. Inna Honor, diretora criativa da marca Flashin’, afirma que “houve grande interesse na minha marca tanto por parte da imprensa como dos compradores. Showrooms da Índia e da China iniciaram comunicação conosco, esta é uma boa oportunidade para entrarmos nos mercados internacionais.” Muitos designers estão presos entre a proverbial rocha e a difícil situação de manter seus pequenos negócios funcionando enquanto navegam no clima sociopolítico cada vez mais hostil no país.

BRIFW e BRICS + Fashion Summit

Fora de Moscou, a maior manchete da moda russa foi o anúncio de Kanye West de Gosha Rubchinskiy como a nova chefe de design da Yeezy. Nenhuma das personalidades da mídia foge da controvérsia, o que é um bom presságio para o tráfego nas redes sociais na próxima temporada.

Quais são as implicações a longo prazo do Summit?

De volta ao BRICS+ Fashion Summit, o designer Lucas Leão, do Brasil, expressou a esperança de que tais eventos e experiências possam levar os países participantes a agirem juntos para aliviar o fardo dos altos impostos de importação e exportação e restrições semelhantes que impedem o crescimento dos negócios das marcas de vestuário dentro do país. Ecossistema econômico BRICS+. Entretanto, Aristide Loua, da Costa do Marfim, afirmou que “como linguagem global, a moda pode ser uma força unificadora”.

Como o mundo se beneficiaria da convergência criativa de talentos em design da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico com 21 estados membros), da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo com 13 membros) ou da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte com 31 países)? Resta saber se o summit inspira outras alianças intergovernamentais a explorar o potencial de pacificação da diplomacia da moda.

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