BRIFW+WIRED Conference ocupa espaço em São Paulo para dois dias de discussões sobre tecnologia
Portal Wired Festival Brasil destaca agenda presencial e virtual da BRIFW4 & Wired Conference, abrindo conversas sobre moda, beleza, arte e cultura
O Centro de Inovação State, na Zona Oeste de São Paulo, foi palco para um dia de Immersive Talks, rodas de conversa (as Arenas), estudos de caso e oficinas sobre tecnologia aplicada a diversas áreas do conhecimento – entre elas, moda, saúde, games, negócios e sustentabilidade.
A programação presencial do BRIFW + Wired Conference – o Day 1, no dia 1/11 – foi dividida em dois momentos:
Uma manhã para convidados com discussões sobre o uso da tecnologia como elemento de transformação social e, na parte da tarde, a área Brain, aberta ao público e com bate-papos e workshops de imersão e aprendizados para conhecer de perto o trabalho de profissionais que vêm pensando novas maneiras de criar o futuro com ferramentas de tecnologia.
É futuro ou delírio?
Esse foi o mote que reuniu especialistas e interessados para o dia de atividades. Após um welcome coffee, teve início a série de seis Immersive Talks, com palestrantes representando o universo dos influencers, a academia e o mercado de marcas que se destacam por suas atuações online.
Participante do painel “O Futuro do Brasil: Tecnologia como política de transformação”, a cientista da computação Nina da Hora levantou a importância de trazer “participação social para a discussões e tomadas de decisão no campo das novas tecnologias. “Faz falta [termos] as pessoas que são impactadas e ao mesmo tempo estão desenvolvendo essas ferramentas”, disse. “Mas nós temos uma oportunidade de utilizar os diferentes contextos do Brasil para conseguir formular cenários concretos que podem vir a dar certo dentro da inteligência artificial”. A mesa teve ainda a advogada Patricia Peck, especialista em direito digital; o secretário João Brant, da Secretaria de Políticas Digitais da Secom (Governo Federal); e Armando de Almeida Pinto Junior, representando a Prefeitura de São Paulo. A mediação foi de Angelica Mari.
Discutindo o tema “Humatars: o futuro das pessoas digitais”, Ney Lopes, da Biobots, contou um pouco como é desenvolver personagens virtuais para celebridades, como fez para influencer Bianca “Boca Rosa” Andrade, com sua Pink, e para a apresentadora Sabrina Sato, que vem dividindo os holofotes com a avatar Satiko. Esses personagens virtuais precisam ser cópias fiéis de seus originais?
“Você vai ter personas, que são influencers na vida real, e que criam personagens”, explicou Lopes. “A Bianca Boca Rosa quis criar a Pink para ser a chefe de inovação da empresa dela, a Boca Rosa Beauty, mas ela não queria que a IA fosse uma reprodução sua. Então a gente tem reproduções fiéis, vai ter personagens criados e vai ter coisas que não têm nada a ver com a personalidade do artista”. Também participaram da conversa Pedro Alvim (Magalu) e Greg Cross (Soul Machines), com mediação de Angelica Mari.
A “datificação” da sociedade foi o centro da conversa “A cultura dos dados: desvio, padrão e narrativa”, com Giselle Beiguelman – artista, curadora e criadora do termo –, a professora Janet Murray, Roberto Martini e Vitor Casadei. A mediação foi de Marcelo Grippa
“Tem gente que acha que política de privacidade existe e tem gente que acredita em Papai Noel”, provocou Giselle. “A noção de privacidade mudou completamente com as redes. É impossível você ter uma rede e não compartilhar dados. O problema é a opacidade com que esse compartilhamento é feito. A maioria das pessoas não tem noção que elas foram convertidas numa espécie de banco de dados ambulante”.
Roberto Martini mostrou o pioneirismo do Brasil no cenário da IA, contando como foi criar a primeira música feita em parceria com uma IA no mundo, lançada no Spotify em 2016.
“Foi um projeto feito com a família do rapper brasileiro Sabotage, morto em 2003”, contou. “A gente criou uma rede neural e a alimentou com uma produção intelectual e musical do Sabotage em vida, manuscritos que ele deixou, trechos de entrevistas, etc. Até chegar a um momento em que a máquina começou a cuspir coisas que já não era possível dizer se era criação do Sabotage ou da máquina˜.
E como falar em tecnologia é falar em transformações, o Immersive Talk “Shifters: tecnologia como estratégia de mudança” reuniu o influencer Mateus Fernandes, a professora do Instituto Brasileiro Governança Corporativa (IBGC) e consultora de tecnologia Nina Silva, com mediação de Andreza Maia, para falar de corpos diversos no futuro.
“Esse ponto me bate muito quando eu analiso a própria educação digital e o que os jovens têm feito através de suas criações de conteúdo, falando dos seus territórios e das suas narrativas”, disse Mateus. “Então para mim, [tecnologia] tem muito a ver com trazer mais visibilidade, mostrar o que a gente tem feito nos nossos territórios”.
Nina Silva expôs o paradoxo que entre tendências e realidade na hora de falar em inovação em grandes empresas, as responsáveis por “ditar a possibilidade de acessos a essa tecnologia”.
“É uma briga porque, para estar na área de tecnologia você precisa ser um jovem altamente criativo, aberto para soluções inovadoras. Mas quando a gente fala de quem está assinando o cheque, para implementação dessas novas soluções tecnológicas nas grandes empresas, a gente está falando dessa masculinidade cisgênera 50+, que muitas das vezes não quer absorver o que realmente é inserir tecnologia e criar processos inovadores”.
Cérebros criativos
Na parte da tarde, oficinas, rodas de papo e estudos de caso se espalharam por diferentes espaços do Centro de Inovação State.
A arquibancada, por exemplo, se transformou em auditório para receber, entre outras, as oficinas “Games + Dados: Game funciona e podemos provar”, com Cláudio Lima e Bruna Pastorini; e “Her Code: Tecnologia CGI para ações de comunicação viral”, com Julia Pires e Priscilla Nassar
Entre os estudos de caso, a moda dominou o cenário. Maria Carolina Watanabe, da FAAP, tratou da sintonia entre TCCs de moda e inovações tecnológicas; Victoria Fernandez, do SENAI CETIQT, abordou a educação e a qualificação de profissionais para o design de moda digital; enquanto que Marcelo Teixeira e Sylvia Demetresco contaram sobre experiências na criação de texturas no Metaverso.
Entre as Arenas, que expuseram produtos e abordaram a atuação de marcas, o destaque foi a roda “Moda inclusiva: a tecnologia como ferramenta de acessibilidade", com Isa Meirelles, pesquisadora de moda acessível; e Cid Torquato, ex-secretário municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo e responsável pelo primeiro desfile acessível (com autodescrição) da São Paulo Fashion Week.
"Qual o impacto para uma pessoa com algum problema físico não consegue usar o que existe no mercado de moda? Porque essa pessoa não consegue encontrar o visual com o qual ela quer se comunicar para o mundo”, refletiu Torquato, que usou a si mesmo como exemplo: “Quando quebrei o pescoço e me tornei cadeirante, me lembro que um dia abri meu guarda-roupa e pensei: nada mais do que tem aqui me serve, nada é mais para mim hoje”.
Com baixa visão no olho esquerdo, Isa Meirelles também partiu das próprias experiências para encontrar, como definiu, seu lugar na moda. “Falar de ‘moda diversa’ é redundante porque nós somos diversos. E a moda, para mim, é um lugar onde a gente tem essas possibilidades de falar sobre nossas diversidades.”